Cabo-verdianos ilustres


 1903

 

Autor: C.L.

Páginas: 276 278

 

 

Cabo Verde tem tido sempre filhos ilustres, e enviando para o conceituado Almanaque Luso-Brasileiro a notícia dos que actualmente o honram, julgamos cumprir um dever sagrado porque assim fazemos conhecido o progresso e o desenvolvimento intelectual desta província. Deixaremos aqui somente os nomes dos que actualmente existem, não falando dos mortos, aqueles que dormem na campa o sono da imortalidade.

 

Tais foram Roberto Duarte Silva, Dr. Júlio Dias, Guilherme Dantas, Barreto e Luís Medina.

 

Ligeiros traços sobre os que existem actualmente.

 

 

 

João A. Martins Na plêiade brilhante dos filhos ilustres de Cabo Verde, nomes aureolados pelos fulgores do talento, tem o primeiro lugar do Dr. João A. Martins, médico pela escola de Lisboa. João Martins é um prosador elegante, de um estilo soberbo, onde se nos revela a magia da frase e que delicia e encanta, deixando em nossa alma um enlevo doce e suave. É o poeta da prosa e poeta até à raiz dos cabelos lhe chamou o saudoso mestre, Sousa Martins.

 

Como médico é abalizado. No seu livro Madeira, Cabo Verde e Guiné, mostra-se um africanista notável, um filósofo, um crítico à altura, uma alma nobre e patriota, enfim um homem respeitável, que deixou um sulco profundo nesta província.

 

 

 

Eugénio Tavares É natural da poética e risonha ilha Brava. É poeta, prosador elegante, grande estilista e sobretudo um polemista de polpa. Na polémica faz lembrar Camilo e Silva Pinto.

 

Eugénio Tavares escreve versos para o seu povo, que é um povo de poetas e colige as suas maviosas canções.

 

Tem colaborado neste Anuário.

 

 

 

José Lopes Verdadeiro poeta, poeta do coração e de larga inspiração. Enleva e extasia a leitura dos seus versos harmoniosos e espontâneos, onde se reflectem os lampejos da cintilação do seu génio e o sentimento da sua alma de artista. Tem muitos livros de versos mas infelizmente ainda inéditos. Para ser um poeta consagrado bastava-lhe a publicação de qualquer de suas obras, porque José Lopes é astro de primeira grandeza no cruzeiro dos poetas cabo-verdianos.

 

 

 

Luís Loff Vasconcelos Prosador elegante, jornalista e orador, mas e acima de tudo um patriota. Todos os seus escritos recendem a um patriotismo acrisolado sincero, e é um dos que mais tem trabalhado para o progresso intelectual desta província, um homem superior pelo seu saber e integridade de carácter.

 

Tem publicado um livro de contos Ecos de aldeia.

 

 

 

Viriato Fonseca Militar distinto, cavalheiro de fino trato, um talento privilegiado, uma inteligência de primeira plana com uma erudição extraordinária. Escreve bem, admiravelmente bem e a sua conversação deleita e instrui.

 

 

 

Dona Gertrudes Ferreira Lima (Humilde Camponesa) É uma mimosa e inspirada poetisa que tem colaborado neste Almanaque com o pseudónimo de Humilde Camponesa. Seus versos são harmoniosos e sentimentais. Grande admiradora de João de Deus, a Humilde Camponesa, professora distinta, foi quem primeiro ensinou pelo método do grande pedagogo, preenchendo  assim uma enorme lacuna no ensino das primeiras letras, atentas às monstruosidades dantes adoptadas, perfeitas confusões para os cérebros infantis.

 

 

 

Januário Leite Sem saber que era poeta, começou a escrever versos desde criança. Nasceu poeta e hoje todos reconhecem nele um poeta de inspiração.

 

É muito romântico. Seus versos são sempre repassados de uma tristeza íntima, de um sentimentalismo profundo, através do qual se reflecte a candidez de uma alma completamente enamorada do ideal.

 

Tem inédito um livro de versos Expansões de alma.

 

...............................

 

Por aqui ficamos e deixando neste livrinho os nomes dos patrícios que nos honram, cumprimos um dever sagrado, prestando-lhes a homenagem sincera da nossa admiração.

 

                               Eugénio Tavares                   Luis Loff Vasconcelos                   Viriato Fonseca                                      Januário Leite