Literatura portuguesa


 1910

 

Autor: A. Corsino Lopes

Páginas: II - 260 262

 

 

(1º e períodos)

 

Os primórdios da literatura portuguesa abrangem dois períodos denominados, respectivamente, o período da infância e o período do progresso.

O primeiro período, que vai desde o século XII até ao fim do século XIV, compreende o tempo que decorre desde a fundação da monarquia até ao termo da primeira dinastia. Datam do século XII os primeiros documentos escritos; é então que se fixa a língua e começa a haver literatura.

Dois factos principais caracterizam o primeiro período: a difusão do lirismo provençal e a fundação da Universidade.

O lirismo provencal ou a poesia trovadoresca teve origem na Provença pequeno condado então ao sul da França, onde se falhava a língua d´oc, um dos dialectos por esse tempo usados naquele país. Concorreram para a difusão do lirismo provençal em Portugal, as relações que mantivemos com a França desde os primeiros tempos da monarquia. A vinda do Conde D. Henrique para Portugal D. Afonso Henriques em várias empresas, o regresso de D. Afonso III de Bolonha, onde se casou e recebeu o título de conde, trazendo para Portugal um numeroso séquito e outros factos comprovativos mostram à evidência que Portugal, de modo nenhum, podia permanecer estranho ao movimento poético da Idade-Média, que tinha por centro o sul da França. O lirismo provençal tomou em Portugal maior desenvolvimento na época de D. Dinis, o qual não protegeu altamente as letras, como também as cultivou bem como alguns filhos, que como ele, foram trovadores ilustres.

As composições poéticas deste tempo acham-se todas reunidas nos três cancioneiros chamados de Ajuda, do Vaticano e de Brancuti. Além dos cancioneiros, ainda as cinco relíquias da antiga poesia portuguesa: O Poema da Cava, que se refere à tomada da Espanha pelos Naracenos; a Canção do Figueiral; a Canção de Hermingues e as duas Cartas de Egas Moniz.

 

O segundo período, que se pode considerar como um período de progresso, é influenciado por duas correntes literárias importantes: a provençal, que vinha do período anterior e a espanhola, devida à comunicação dos nossos poetas com os poetas espanhóis imitadores do Dante e de Petrarca. Caracteriza este período os factos seguintes:

a) Separação profunda da poesia popular e da poesia erudita, motivada pelos sucessos políticos da nação;

b) O gosto pelas traduções clássicas, que se pode considerar como uma preparação para a Renascença;

c) A difusão das lendas bretãs, contos épicos que episodiavam os feitos heróicos de Carlos Magno e do rei Artur e que vinham da Armórica, ao norte da França onde se falava a língua d´oil.

É o cancioneiro de Garcia de Resende o monumento mais importante da poesia erudita e aristocrática deste período.

A história é dignamente representada por Fernão Lopes, o Heródoto português autor verídico e consciencioso, que procurou aplicar à história a verdadeira crítica para descriminar nos factos o legendário do verdadeiro. A Fernão Lopes sucedem Azurara e Ruy de Pina, que dos arquivos reúnem os materiais para as crónicas.

Neste período não se pode ainda criar uma epopeia por falta de tradições heróicas; o teatro, como no primeiro período, reduz-se apenas às representações de cenas hieráticas, que tinham lugar nas igrejas e a novelística traduz os contos bretões e outras lendas da Idade-Média.

A filosofia é representada por dois príncipes ilustres, filhos de D. João I, D. Duarte, que escreveu o Leal Conselheiro e D. Pedro, Duque de Coimbra, que escreveu a Virtuosa Benfeitoria e traduziu Cícero e Vegécio.